Terça-feira, 4 de Setembro de 2007

Novo Blog

A partir de agora tenho um novo Blog. A todos os interessados o meu novo espaço de partilha é mundoprofundo.blogs.sapo.pt.

Obrigado a todos

 

Miguel Neto

publicado por directodetimor às 12:05
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito
Terça-feira, 24 de Julho de 2007

O Último Post

Tudo o que começa, acaba. E assim chegou ao fim esta minha primeira viagem pelo sudoeste asiático. Foram nove meses num país diferente, com uma cultura diferente, com hábitos culturais diferentes, enfim com formas de viver a vida diferentes. Este blog teve um único objectivo. Surgiu a pedido dos vários amigos da Diocese do Algarve e da Arquidiocese de Évora, para que pudessem obter informação mais detalhada do que eu ía vivendo e captando nesta minha experiencia de Voluntariado missionário ao serviço da Diocese de Baucau, Timor-Leste. Foi exactamente isto que tentei fazer aqui ao longo destes meses, com mais ou menos regularidade, conforme as circunstancias me permitiam.

Esta experiencia em Timor-leste foi uma experiencia diferente para mim a todos níveis. Diferente e ansiada há já alguns anos. Foi uma experiencia que teve momentos difíceis de inicio, no entanto como depois da tempestade vem a bonança, hoje parto com vontade de ficar, mas sobretudo com muita vontade de voltar. Alias, parece-me que se não tivesse passado por momentos difíceis no início, eu nunca teria “vivido” Timor na totalidade como vivi. Aqui tive oportunidade de conhecer-me na totalidade, os meus limites, enfim o pior e o melhor de mim mesmo, de uma forma saudável. Também adquiri um background sobre a vida que me vai servir para sempre. Quando no dia 1 de Agosto aterrar no aeroporto de Faro, não sei se serei uma pessoa diferente, mas tenho a certeza que sei mais coisas, quanto mais não seja, aqui aprendi a usar uma catana para abrir cocos e beber aquela água fabulosa. J

Para este sucesso pessoal também contribuíram os vossos comentários e emails de incentivo. Desde do inicio nunca me senti só e abandonado em Timor, mesmo quando no inicio estava amorfo no interior do meu quarto. Todos vós que partilhastes esta minha experiencia de nove meses, em terras asiáticas, são parte integrante e importante do sucesso desta minha passagem por este país. A todos o meu muito obrigado. Sem vós isto seria muito mais difícil.

Com a minha saída de Timor-leste acaba também este meu blog, o “directo de Timor”. Este blog, como já mencionei anteriormente surgiu com um objectivo muito específico. No entanto outras pessoas para além daquelas que referi no início tiveram contacto com ele. Coisas próprias da internet. Para esses vai também o meu muito obrigado.

Contudo o blog chegou ao fim, e com este texto termina publicação e a sua existência activa. No entanto, digo já a todos os interessados que como gostei da experiencia e tenciono iniciar outro blog, porém de conteúdo e características completamente diferentes. Vai ser um blog anónimo e vai conter sobretudo artigos de opinião. O primeiro post já está em ebulição.

Adeus e até a uma próxima oportunidade, já em Portugal.

Obrigado a todos pelos vossos comentários e emails.

Um abraço e obrigado a todos.

Miguel Neto

publicado por directodetimor às 02:31
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito
Quarta-feira, 11 de Julho de 2007

De Soibada a Maubisse

 

Cá estou de novo a dar noticias a todos quanto acompanham este blog. O facto de aulas terem acabado um mês mais cedo do que previsto, por ordem expressa do governo, por causa das eleições legislativa, afim de evitar um interrupção do ano lectivo caso haja problemas e distúrbios após a divulgação dos respectivos resultados eleitorais, está a permitir-me gozar inteiramente de um mês de ferias em território timorense. Durante este tempo tenho aproveitado, e vou continuar a aproveitar, para conhecer mais o pais e a cultura das suas gentes. Assim há um dias fui convidado pelo D. Basílio, Bispo da Diocese de Baucau para o acompanhar até Soibada, para aí celebrarmos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, patrono local. Soibada é um sitio mítico em Timor. Primeiro, por aí estar situado o Santuário nacional de Nossa Senhora de Aitara, forte local de peregrinação, correspondente ao nosso Santuário de Fátima, na devoção do Povo Timorense. Segundo, porque em Soibada se situou, desde o inicio do século passado até ao ano de 1975, o mais importante colégio de Timor, e um dos mais importantes do antigo território português (ou como eu costumo dizer aqui em Timor, o Sacro Império Português), o que faz com que Soibada possa também ser considera como a “Coimbra de Timor Leste”. Nesse colégio jesuíta estudam alguns dos actuais lideres do Povo Timorense, como o Dr. Ramos Horta, o Xanana Gusmão e ainda D. Alberto Ricardo, actual Bispo da Diocese de Díli. Mas, por isso, não pensem que Soibada fica situada no litoral ou num local facilmente acessível. Soibada é uma localidade situada de no profundo interior de Timor leste, ou seja, alta montanha. O caminho para lá chegar é digno de qualquer prova de todo-o-terreno do campeonato mundial da respectiva classe automobilística. Porém é dos sítios mais bonitos onde eu estive em toda a minha vida. Fica rodeada de montanhas lindíssimas, e por entre elas passa uma pequena ribeira, onde imaginem, existe camarões, que segundo dizem são muito bons. É claro em Soibada não existe luz e água canaliza para as cerca de 3000 pessoas que aí vivem, e entre elas contam-se muitos jovens e crianças. Dado o facto de se estar em alta montanha faz frio, mas não resta outra hipótese que não seja tomar banho de agua fria. Na festa tive a oportunidade de participar numa procissão todo o terreno (já que passamos por um caminho completamente enlameado), e de presenciar mais um autentico festival de danças e cantares tradicionais de Timor leste absolutamente fantástico.

            Depois desta viagem a Soibada, tive uma pequena, mas muito profunda festa de despedida da escola católica de Manatuto e também dos meus alunos. Não podia deixar de partilhar convosco, amigos e todos aqueles que acompanham o meu blog, o que aconteceu nessa festa. Essa festa era simultaneamente a festa de finalistas e a festa de despedida de dois professores, eu e um outro seminarista timorenses. A dada altura da festa quando se quiserem despedir de mim, a directora da escola chamou-me e também chamou alguém para me entregar um “Tais” (pano típico de Timor), eu preparado já para a ocasião inclinei a cabeça para a pessoa que me ia entregar o Tais (como tinha visto outras pessoas anteriormente fazerem), porém qual não foi o meu espanto quando a pessoa que me ia entregar o Tais me mandou levantar a cabeça e limitou-se a colocar o dito “Tais” por cima do meu ombro direito. Imediatamente, e conhecendo já um pouco da realidade timorense, comecei a pensei que aquele gesto teria que ter algum significado especial, por isso inquiri de imediato junto de alguém, que estava perto de mim, o que significava aquele gesto. Essa pessoa explicou-me que ao colocarem-me o “Tais” daquela maneira, não me estavam a tratar como um visitante, mas como alguém da terra. Quer dizer que para eles eu naquele momento tinha deixado de ser um Malai (estrangeiro) e passei a ser um ilustre habitante de Manatuto, Timor leste. Podem pensar que este gesto de tão simples que é, não vale nada, mas é das maiores honras que uma pessoa estrangeira que trabalha em Timor leste pode ter. Eu a partir de agora sempre que me perguntarem em Timor Leste donde eu sou, tenho obrigatoriamente de dizer: “ Eu sou de Manatuto” (por acaso o único reino timorense eternamente fiel aos portugueses, desde que nós cá chegamos em 1514), ou com se diz em Tétum: “Hau ema Manatuto”. Ao tomar consciência do que se tratava não pode deixar de me emocionar, lembrando-me de uma frase de um ilustre timorense meu amigo, no dia que cá cheguei: “Choraste quando cá chegaste, hás-de chorar mais quando saíres de Timor”. Sem palavras.

Depois, já um pouco mais livre, devido ao antecipar das férias escolares, pode colaborar na rádio da Diocese de Baucau durante o período eleitoral, fazendo de jornalista durante a contagem dos votos. Posso dizer que tu correu conforme o esperado, e o resultado das eleições só é surpreendente para quem desconhece a realidade actual de Timor leste. A confusão pós eleição era esperada e vai acontecer. Só espero que não haja problemas de maior, no que diz respeito a desacatos provocados pelos apoiantes da Fretilin.

Depois da contagem de votos no distrito de Baucau fui até Maubisse. Maubisse é uma vila que fica aos pés do Monte Ramelao, outrora o ponto mais alto do território português (o do Sacro Império Português). Maubisse é conhecido em Timor Leste por ter o melhor café do país. Fui até lá com os Jovens de Manatuto para participarmos numa actividade juvenil que tinha como objectivo quebrar a barreira existente entre a parte oeste e a parte leste, ou seja a zona de Loro’mono e a zona de Loro’sae, de Timor Leste. Esta diversão pode parecer um pouco esquisita aos mais desconhecedores da realidade timorense, mas ela existe e pode criar divisões profundas no Povo. Nunca podemos nos esquecer que em Timor existem 23 dialectos locais, e que historicamente esta parte do território era comporta por vários reinos independentes entre si, e com algumas rivalidades entre eles.

Mas, continuando a falar de Maubisse. Maubisse é uma vila linda, onde a paisagem se pode confundir com os Alpes suíços ou com os Pirenéus franceses. È claro que essa beleza tem a desvantagem de ser um dos sítios mais frios de Timor leste, e claro está também não há água quente para tomar banho. Lá, pela primeira vez neste 8 meses senti frio, e frio a serio. Inserido na actividade juvenil tive a oportunidade de participar na limpeza de uma enorme plantação de café. Gostei da experiencia, sobretudo gostei de andar com uma catana nas mãos a cortar tudo o que me aparecia à frente. É claro que é preciso ter muito cuidado com as jibóias que podiam aparecer qualquer momento. Mas como uma catana nas mãos confesso que se tem menos medo.

De resto continua tudo normal e calmo por aqui. O bom tempo para a praia continua, apesar de agora o calor começar a ser menos forte, o que é agradável.

Obrigado a todos pelos vossos comentários e emails.

            Vejam as fotos em anexo.

Um abraço e obrigado a todos.

Miguel Neto

 

 

publicado por directodetimor às 03:20
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito
Sexta-feira, 8 de Junho de 2007

Por cá continuo

Apesar de há já muito tempo não dar noticias, continuo em Timor e bem de saúde. Isto de arranjar sempre assunto para escrever por vezes dá trabalho, e confesso que há coisas muito mais interessantes em Timor para se fazer, do que se perder algumas horas em frente de um computador a escrever.

Por cá continua tudo normal, tendo em conta o conceito de normalidade aplicado à realidade de Timor Leste. Começou a campanha eleitoral para as eleições legislativas, o que confere ainda mais animação a este pequeno pais. Aqui toda a gente vibra com as campanhas eleitorais. Os timorenses porque ao apoiarem quotidianamente o partido da sua simpatia, tem a oportunidade de andarem por todo o país, sendo transportados em camiões como se fossem gado vivo, como podem observar pelas fotos que eu anexei ao lado. Aqui não se coloca questões sobre a segurança e prevenção rodoviária. É todo ao molho e fé em Deus, ou melhor fé no condutor e no veículo. Os internacionais (ou malais, na linguagem local) também vivem intensamente este período eleitoral, porque para além doutros aspectos que não convêm referir aqui e agora, é nos dada a oportunidade de tirar fotos às movimentações eleitorais que são absolutamente fantásticas. Aliás este país, vive constantemente absorto em questões políticas, chegando ao cúmulo de haver um debate político na radio e televisão que durou cerca de 12 horas, das 9 da manha até às 21h. Por causa desse debate, houve nesse dia em Manatuto electricidade durante todo o dia, para que toda a população pode-se assistir ao debate, quando habitualmente só costuma haver electricidade das 18h à 0h. O interesse político é de tal ordem que chega-se ao cúmulo de haver entre alguns timorenses apostas sobre quem vai ganhar as eleições, no valor de 4000 dólares, e até apostar o próprio carro. Se se pensar que o ordenado de um ministro é de cerca 600 dólares, vejam a enormidade de uma aposta deste género. Obviamente que este asfixiar de politica não é nada positivo para o discernimento da maioria da população, já que tirando as pessoas que habitam nos sitos mais montanhosos e que não têm condições nem possibilidade em contactar com esta realidade, toda a outra população activa paralisou para assistir a este debate. Para além de grande parte dos jovens andarem um mês inteiro (período em que dura a campanha eleitoral para as eleições legislativas), sem trabalhar e muitos sem estudar.

Certo dia, comentei com os meus alunos que em Portugal pode-se morar perto dos centros de votação e não se vai votar, e que existe um desinteresse geral pelas questões políticas. Obviamente que eles ficaram muito admirados e não percebem essa atitude. Para eles, a politica é muito importante nas suas vidas, já que aqui vota-se aos 17 anos. Interessam-se e discutem as suas opções políticas entre eles.

De resto está tudo normal por aqui. Bom tempo para a praia, apesar de algumas chuvas. Porém agora o calor começa a não ser tão intenso, o que é sempre agradável.

Obrigado a todos pelos vossos comentários e emails.

Um abraço e obrigado a todos.

Miguel Neto

publicado por directodetimor às 02:19
link do post | comentar | ver comentários (7) | favorito
Sexta-feira, 27 de Abril de 2007

Em Timor, por vezes, chora-se sem saber porque

Por vezes em Timor é difícil segurar as emoções e os sentimentos que nos assaltam. Aconteceu comigo quando cheguei cá e fui confrontado, logo à saída do aeroporto de Díli, com a ausência completa de condições de vida dos refugiados que vivem nos seus campos. Posso confessar, agora que já passaram seis meses, que fiquei bastante perturbado como que vi, fazendo um enorme esforço para não chorar perante esse cenário bastante triste do ponto de vista humano.

Porém, ao contrario do possam pensar, provavelmente por influencia de alguma comunicação social, nem só de tristeza, pobreza, confrontos e instabilidade vive o povo de Timor Leste. Timor é muito rico, e rico de uma riqueza que muito de nós portugueses, principalmente as gerações mais vindouras como a minha, por vezes já não damos importância. Timor Leste tem uma riqueza cultural e religiosa incalculável. E isso, meus amigos, não se compra, constrói-se. Constrói-se da maneira mais linda possível. Transmitindo de geração em geração, tudo o que os nossos antepassados nos deixaram, para que os novos filhos da nação saibam dar valor àquilo que os seus antepassados construíram ao longo dos séculos. E em Timor Leste esse trabalho é feito dessa forma, de geração em geração, ininterruptamente.

Foi por isso, que durante este fim-de-semana, na jornada nacional jovem Pascoa Jovem 2007, em Los Palos, participei num encontro de jovens que nunca mais vou esquecerei durante os dias em que andar neste mundo. Não por ser um encontro de jovens (cerca de 12 mil), nem por ser organizado pela Igreja, já que, felizmente ou infelizmente, conforme as circunstancias, já tenho muitos encontros de jovens no currículo.

O que me impressionou, e que me deixou outra vez de lágrima ao canto do olho, foi a forma como este povo, desde os mais jovens até aos mais velhos, mostrou a quem esteve presente a sua riqueza cultural através de manifestações de fé.

O referido encontro teve por base a entrega da Cruz Jovem à paróquia de Maubisse. A Cruz Jovem é uma cruz que durante um ano está entregue a uma paróquia de Timor. No final desse período, há, durante uma semana, uma jornada com conferências, catequeses e reflexões para os jovens de todo o Pais.

Eu só tive o prazer de participar no fim-de-semana final, em que houve a passagem da Cruz Jovem da paróquia de Los Palos (Diocese de Baucau) para a paroquia de Maubisse (Diocese de Díli).

Como mote para a entrega da cruz, caminhou-se 14Kms até ao limite da paroquia. Aí realizou-se uma noite cultural (mostrando sobretudo a cultura Fataluku, da zona de Los Palos), com danças e cantares autóctones e não só, pela noite dentro. É para vejam a resistência do povo timorense, quando algumas pessoas presentes (sobretudo os poucos internacionais presentes) suspiraram por descanso, o povo timorense presente (desde os mais velhos até ao mais novos) preparava-se para dançar pela noite adentro. Primeiro foi a dança do lafaek (crocodilo), um forte gesto simbólico com o objectivo de quebrar a possível fronteira cultural existente entre Loro’Mono (a parte mais ocidental de Timor-Leste)e Loro’Sae (a mais oriental de Timor Leste). Depois, houve uma dança tradicional da cultura fataluku, simplesmente lindo dada a intensidade e sincronização com que foi realizada pelas gentes de Los Palos e arredores. Por fim, foi concerto e baile ao longo de toda a noite.

No outro dia de manha houve uma missa presidida pelo Núncio Apostólico de Timor Leste. Essa missa foi fortemente enriquecida por danças e cânticos culturais.

No fim da Eucaristia, que começou às10h e terminou por volta das 12h.30m, houve então a entrega da Cruz à paróquia de Maubisse. Essa entrega realizou desde 13h. até perto das 16h. Foi um longo, mas emocionante e riquíssimo, desfilar de danças e outras manifestações culturais de louvor à Cruz Jovem que ia partir. Como coroar desse dia cultural e emocionante, foi a simplesmente arrepiante (sobretudo para um europeu como eu, habituado a outras manifestações culturais) recepção da Cruz por parte das gentes Maubisse, ao realizar, no dialecto local, incessantes louvores à cruz acompanhados por uma dança tribal e típica da cultura Maibai (designação da cultura da zona de Maubisse). Foi nesse momento, que me senti como se estivesse perante a origem do Mundo e do Homem. Mais uma vez tive que me segurar para não me emocionar.

Estas minhas simples palavras não retratam quase nada daquilo que se passou no passado fim-de-semana. Eu simplesmente queria deixar a imagem de que em Timor, ao contrario do possa parecer, há mais vida para além dos conflitos em Díli, e das sucessivas confusões eleitorais. O essencial de Timor Leste, não é isso, mas é a sua imensa riqueza cultural ainda virgem e original. È nisso que Timor Leste nos encanta.

Coloco em anexo algumas fotos, que penso podem ser interessantes.

De resto está tudo normal por aqui. Obrigados a todos pelos vossos comentários e emails.

Se quiserem comentar e já não houver espaço aqui no blogue podem sempre mandar um email para miguelmarioneto@gmail.com. Eu prometo escrever sempre que puder.

Um abraço e obrigado a todos.

Miguel Neto

 

publicado por directodetimor às 06:24
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito
Sexta-feira, 20 de Abril de 2007

Para onde Vai?

Depois de algum tempo sem dar noticias, decidi escrever um novo post aqui no blog. Isto de arranjar tema e assuntos para vos contar com alguma frequência tem muito que se lhe diga.

Por aqui corre tudo bem. A única confusão que existe é mesmo a contagem dos votos nas eleições. È difícil contar votos, hei!, e sobretudo em Timor, onde nem sempre o voto colocado na urna tem o efeito pretendido pelo votante. E mais não posso dizer, até porque não sei o que se passou. Ou melhor, muita gente em Timor sabe o que se passou e o que se passa, mas não diz. E eu também não digo, nem aqui, nem agora.

Porém a singularidade de Timor não se resume à existência de mais votos do que votantes. Há outros aspectos interessantes. Em Timor é possível participar numa festa de internacionais, organizada em conjunto por um iraniano e um americano. O que não é propriamente normal nos dias de hoje. Ouvir pessoas importantes dizer que se transformaram em pássaros para fugir aos indonésios. E outros aspectos que são perfeitamente normais aqui, mas que em qual outro lugar do mundo não deixava ninguém indiferente.

Foi um desses aspectos normais aqui, mas invulgares noutras paragens que me perturba e inquieta-me desde o dia em que cheguei. Em Timor é normal e vulgar perguntar a todos o que se cruzam connosco, mesmo desconhecidos, onde é que vamos. Eu passo a explicar convenientemente. È normal eu ir a caminhar na rua, e num trajecto de aí uns 500m, cruzar-me com 10 pessoas (que eu não conheço) que me fazem a seguinte pergunta: Malai, Para onde Vai?. ou em tétum: Ó Ba ne’ be?, ou ainda em inglês: Where are you going?

Não é um fenómeno em larga escala, mas digamos que assume agora importância. Exemplo disso, é que a famosa frase Ó Ba ne’ be serviu de slogan a uma campanha publicitária da Timor Telecom.

Curioso como sou, e não querendo fazer juízos precipitados, investiguei sobre esta questão, perguntando a vários amigos timorenses o porquê de toda a gente perguntar para onde vamos. Obtive várias respostas. Alguns dizem-me que se trata de uma questão cultural. Sendo a pergunta feita apenas como se fosse um cumprimento, um olá como estás?; Outros disseram-me que é uma forma de se preocuparem connosco, ou seja, saberem onde estamos, para se alguém perguntar por nós, ou nos acontecer alguma coisa, saberem onde estamos; por fim, alguns (e é a fonte mais segura) dizem-me que é curiosidade pura; género agente da C.I.A. Alias um timorense uma vez disse-me que se a C.I.A. soubesse como eram os timorenses a investigar a vidas das outras pessoas, que vinha cá fazer recrutamento de pessoal para a América.

Eu inclino-me mais para esta ultima hipótese. Porém, confesso que inquieta-me um pouco este fenómeno, sobretudo quando meros desconhecidos perguntam-me do nada, para onde vou. Nunca gostei que soubessem a minha vida, sobretudo pessoas que eu nunca vi na vida, e sobretudo num país como Timor. País de gente muito boa, mas também um país com muitos problemas de segurança como é do domínio público. Eu, em relação a este aspecto da cultura do povo timorense já tomei duas atitudes. A primeira foi avisar os meus alunos, que se forem algum dia a Portugal ou a outro pais europeu, nunca perguntem a desconhecidos ou a pessoas com quem não tenham alguma intimidade, para onde elas vão. A outra atitude foi arranjar uma resposta para esta perguntar, sempre que ela me seja feita por desconhecidos. Assim quando me perguntam para onde vou, simplesmente respondo que vou para ali. Depois de ouvirem a resposta e de pensarem um pouco, ninguém pergunta mais nada.

Pois é, o povo timorense, apesar de ser muito acolhedor, têm alguns hábitos esquisitos, que nós, pobres ocidentais, por vezes não percebemos.

Quando acabar de editar este post não sei para onde vou. Ou melhor sei, mas digo aqui. J

É verdade alguns de vós soubestes que estive doente. Não vos preocupeis. Não foi nada demais. Apenas alguma febre e gripe. Coisa perfeitamente normal por estas paragens. Calha a todos. Eu já estava à espera há muito tempo, dado que varias pessoas com quem contacto tiveram também doentes, e por várias vezes.

De resto está tudo normal por aqui. Obrigados a todos pelos vossos comentários e emails.

Se quiserem comentar e já não houver espaço aqui no blogue podem sempre mandar um email para miguelmarioneto@gmail.com. Eu prometo escrever sempre que puder.

Um abraço e obrigado a todos.

Miguel Neto

 

publicado por directodetimor às 01:43
link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito
Quinta-feira, 15 de Março de 2007

Uma Aventura em Timor (I)

Entre os portugueses residentes em Baucau existe, de uma forma geral, grande espírito de solidariedade. Preocupamo-nos com a saúde uns dos outros, e tentamos entreajudar quando é preciso. Isto acontece frequentemente comigo, até porque sendo um dos mais novos do grupo e estando numa dinâmica de voluntariado, existe um certo espírito protector por parte de alguns elementos desse grupo Lusitano, residente na diáspora ou no exílio, conforme os casos. Ora há já algum tempo foi a minha vez de ajudar quem mais necessitava da minha pobre ajuda. Um amiga minha, portuguesa, residente em Baucau e que esta a trabalhar numa O.N.G., pertencente à Duquesa de York, a children in crisis, necessitou da minha ajuda, melhor necessitou da minha companhia até Díli. Coitada, devia estar mesmo necessitada e desesperada para pedir ajudar a uma pessoa como o Miguel!, dirão alguns mais cépticos em relação à minha pessoa. A situação é a seguinte: Essa minha amiga que se chamar C., tem uma filha, a G. A G. estava doente, tinha uma infecção num dos ouvidos. Como as únicas médicas portuguesas ligadas à Cooperação Portuguesa só se encontram em Díli, não havia outra alternativa que não fosse ir lá. Como a situação em Díli já mostrava sinais de instabilidade e de alguma insegurança ela pediu o meu apoio. E lá fomos nós até à capital. A viagem de Baucau para Díli, já seria uma perfeita aventura para algumas pessoas menos afoitas. Ou não fosse ela constituída por cerca de 120Km, cheios de buracos, curvas apertadíssimas, búfalos no meio da estrada a dormir a sesta, enfim, toda uma panóplia de acontecimentos e obstáculos inesperados que é preciso contornar. Apesar disso a viagem decorreu normalmente, não atropelamos ninguém, nem nenhum animal, apesar de termos estado cerca de 5 minutos à espera que um búfalo pachorrento se designa-se a sair da estrada, depois de nos ter olhado e ter quase metido o seu simpático nariz ao pé da minha boca. Chegados a Díli, fomos dar de alimento ao nosso corpinho. A C. conhecia um restaurante que servia um buffet bom e a baixo preço. Então lá formos ao tal sítio. Eu, como ainda não perdi a grande parte das minhas esquisitices alimentares não comi lá muito, mas achei o sítio simpático, quanto mais não fosse porque a música brasileira me fazia lembrar o Chimarrão do Fórum Algarve. Infelizmente não tinha uma deliciosa picanha brasileira para comer nem sangria para beber, e sobretudo não tinha os meus amigos glutões para me acompanhar nesse belo repasto (É verdade, lembrei-me do Valter, do Renato e do Farinha, assim que entrei naquele espaço com musica brasileira mas sem picanha!) Depois do almoço, fomos tratar da infecção da G., e posteriormente fomos fazer uma serie de frivolidades típicas daqueles campónios que vão uma vez por ano à grande cidade. Antes de sair de Díli para o regresso a Baucau, importava comer qualquer coisa. Dado que aqui em Timor não há estacões de serviço e por isso está fora de hipótese para pelo caminho para comer. Paramos algures na cidade de Díli. Eram por volta das 19h quando acabamos o nosso lanche e nos preparávamos para regressar a Baucau, eu deparei com um pormenor no carro da C. O pneu estava em baixo. - O pneu suplente está bom? – Perguntei eu de imediato, ainda antes de lhe dizer que o pneu estava em Baixo. - Porque? – Perguntou preocupada a C. - É que vou ter que trocar o pneu deste lado, Ele está completamente em baixo – perguntei eu, arranjando força e coragem para trocar um pneu de um Suzuki Vitara. - E tu sabes fazer isso? – Perguntou-me ela, pensando que provavelmente que trocar pneus não é uma coisa que se aprende num curso de teologia. - Sei! O meu pai ensinou-me quando tirei a carta. – Respondi eu, pensando como seria bom ter o velho Manuel ali ao meu lado naquele momento. Tudo seria mais calmo, e eu certamente trabalharia muito menos. Bom! Não tive alternativa e coloquei mãos à obra. Eu nunca tinha trocado um pneu sozinho, ou seja, sem ninguém ao meu lado que não soubesse nada do processo. O facto de ser completamente noite também não ajudava muito à coisa. Mas não havia nada a fazer, havia que trabalhar e foi o que eu fiz. Confesso, e alguns sabem certamente, que tudo o que implica trabalho manual é um problema para mim. Mas afinal de 1 hora a mudança estava enfim realizada. Tanto tempo!, Dirão alguns. Caramba! Eu não sou nenhum mecânico da Ferrari. Sobretudo houve vários imprevistos durante o processo. Para além de ser de noite, havia permanente a olhar para mim e para o que eu fazia, um miúdo de rua, o que me irritou profundamente. Detesto quando olham para o que estou a fazer! Depois o macaco não encaixava no sítio, a jante tinha cinco parafusos e não quatro, o que implicou baixar e levantar a roda umas duas ou três vezes, depois a jante do pneu suplente não encaixar por nada deste mundo no sítio certo, enfim, e mais algumas condicionantes para o meu trabalho de mecânico não ser rápido e eficaz. Terminei, eram 20h15m. Não nos apetecia nada ir para Baucau, sobretudo porque era de noite, e sair de Díli de noite é perigoso. Por outro lado, andávamos agora sem pneu suplente, o que em Timor é arriscado. Porém, Díli parecia um sítio turístico no sudeste asiático, dado que os hotéis estavam todos cheios naquela noite. Ainda procuramos 2 ou 3 sítios, mas nada, estava tudo cheio. Veio à minha memória a noite de natal, também José e Maria para eles em Belém. Felizmente eu não tinha uma mulher grávida comigo. Sendo assim e não conseguindo sitio para ficar em Díli, não havia outra alternativa do que ir para Baucau. Mas uma vez lembrei-me do velho Manuel, o meu pai: “nunca andes de noite, sem pneu suplente e sem lanterna, pode acontecer alguma coisa e tu não tês alternativa.” Se esse concelho do meu pai se aplicava às minhas viagens nocturnas de Casa para Évora, muito mais se aplicava a uma viagem de Díli para Baucau. Rezei para que o meu pai não tivesse razão. Estando nos a caminho de Baucau, mais precisamente em Metináro (Onde se localiza o maior campo de refugiados de Díli) a cerca de uns 30 km de Díli. Eis senão quando, rebenta o pneu que eu dolorosamente tinha acabado de colocar. Estava a cerca de 30 km de Díli, a uns 90 km de Baucau, sem rede de telemóvel, sem luz e com um carro só com três pneus. Eu, uma mulher e uma criança doente. Que fazer! Era a pergunta que se impunha. A C. que possui um sentido de Humor por vezes intragável, sugeriu, sendo eu um teólogo e um crente que nos puséssemos no meio da estrada a rezar. Eu olhei para ela, respirei fundo, e disse que não! Deus não tinha nada haver com os nosso dois furos. Olhei para o meu telemóvel, que tem um garfield irritante como pano de fundo e continuava sem sinal de rede. Que fazer! Num raciocínio rápido sugeri que estando o pneu estragado porque rebentou, andássemos devagar até encontrarmos rede de telemóvel. Aí eu telefonaria ao padre de Manatuto que é meu amigo e falaria com ele para nos vir ajudar. E assim fizemos. Porém andamos mais de 10 km ate encontrarmos a rede de telemóvel (e mesmo assim foi só um tracinho que logo desapareceu). Dada a longa distancia que tivemos que percorrer imaginem o estado em que o pneu rebentado ficou. Parece renda, digo parece, porque a C. o guarda religiosamente no interior da sua casa de banho. Continuando. Depois de termos ligado ao padre de Manatuto e de passados 15m ele ter vindo ao nosso encontro com o seu motorista, não tivemos outra alternativa senão conduzir o carro até à povoação mais próxima, que por sorte ficava já na área de Manatuto. Depois de várias tentativas infrutíferas no sentido de se arranjar um pneu para o carro, ele ficou ali ao cuidado de pessoas conhecidas até ao outro dia de manhã. A C. telefonou a um colega de trabalho dela e segui viagem com a G. para Baucau. Não tiveram mais furos até lá. Eu fiquei em Manatuto. Arranjamos o primeiro pneu que foi furado em 2 sítios e levei o Carro para Baucau. Um pormenor importante, como eu disse à pouco o carro era um Suziki Vitara, mas de mudanças automáticas. Foi a primeira vez que conduzi um carro de mudanças automáticas. Imaginem o resultado…não aconteceu nada, e até gostei. Se quiserem uma outra versão desta historia, podem lê-la no blog: blogdalexandra.blogspot.com, com o post com o titulo Porque Deus castiga os pecados pequenos. Vejam se coincide, e alem do mais, a sua versão é mais divertida. Enfim, por aqui me fico, para a semana tentarei escrever mais novidades. Parece que a situação voltou há normalidade em Díli. Por isso não há motivos para grande preocupação. Se quiserem comentar e já não houver espaço aqui no blogue podem sempre mandar um email para miguelmarioneto@gmail.com. Eu prometo escrever e enviar fotos sempre que puder. Um abraço e obrigado a todos. Miguel Neto
publicado por directodetimor às 00:48
link do post | comentar | ver comentários (5) | favorito
Quinta-feira, 8 de Março de 2007

Realizei o Sonho de grande parte da juventude timorense

É verdade, tive a oportunidade de concretizar o sonho de grande parte dos adolescentes timorenses. Foi até à Indonésia, mais concretamente a cidade de Jogyakarta , na Ilha de Java , precisamente a cidade onde à pouco tempo ardeu um avião ao aterrar na pista do aeroporto. Apesar de ser o segundo grande sitio turístico do maior arquipélago do mundo, logo a seguir à ilha de Bali, a cidade de Jogyakarta , ou só Jogya , utilizando uma forma mais abreviada mas muito comum, é ainda uma cidade muto pouco povoada por não asiáticos, e por isso é um encanto para um verdadeiro apreciador da cultura asiática.

Esta viagem servir-me para perceber um pouco melhor a cultura da Indonésia, apesar de segundo alguns dados, a população de Jogya tem uma cultura e uma mentalidade muito diferente do resto da Indonésia. No pouco tempo que tive naquela cidade, tive a oportunidade de presenciar como se vive no maior país muçulmano do mundo. Familiarizar-me com as mulheres de véu islâmico e algumas até de burca. Isto apesar, de o islamismo em Jogya ser muito mais tolerante do que noutras partes da Indonésia, onde já se destruíram várias igrejas cristãs, e inclusive se fazem boicotes aos Restaurantes Mc. Donalds e Pizza Hut , por serem Americanos. Em Jogya , pode ir tranquilamente a uma missa numa Igreja Católica dedicada a Santo António de Lisboa, e é possível encontrar um guia turístico muçulmano casado com uma cristã.

A Indonésia é um país em expansão, sobretudo económica, apesar de haver ainda alguns focos de separação independentista nomeadamente na Ilha de Sumatra. Porém, essa expansão económica vem de uma poderosa indústria de contrafacção. Ali é possível encontrar uma grande parte dos produtos mais conhecidos e ambicionados do mundo a um preço muito reduzido, porém não são originais, mas perfeitas falsificações. Aliás, o baixo nível de vida praticado na Indonésia é um importante aliciante para o europeu de classe media - baixa fazer turismo na Indonésia. Ali é possível encontrar um quarto de hotel de 4 estrelas por 17€ 175.000.00Rp ) por pessoa e por noite. É possível tomar uma refeição num restaurante de grande qualidade por 10€ 100.000.00Rp ). Essencialmente, é possível adquirir uma vasta gama de produtos e serviços a um preço extremamente reduzido para um europeu. Ao nível da segurança, não existe problemas de maior quer em Jogya , quer na ilha de Bali. O mesmo já não se pode dizer nas cidades de Jacarta e Surabaya , onde os assaltos parecem que são uma constante.

Enfim, fiquei agradado com o que vi e senti na Indonésia. Agora percebo muito melhor o encanto que aquele país provoca nos adolescentes timorenses. De facto, como asiáticos que são, têm como heróis e modelo de vida uma sociedade que está muita próxima de Timor, e que influenciou fortemente e que continua ainda a influenciar os jovens Timorenses. A indonésia é um objectivo a atingir para grande parte dos jovens timorenses.

Porém nem tudo é perfeito. Estamos perante um dos países do mundo com maior índice de corrupção. A titulo de exemplo, lá é perfeitamente possível e até normal chegar a uma universidade e comprar um diploma de curso, quer seja licenciatura ou doutoramento, por cerca de 2500€. Depois acontece que o vice-presidente da Indonésia, de um dia para o outro passe a ser o Senhor Doutor, ou mais grave ainda que o Procurador-Geral da Republica de Timor-Leste, que tirou um curso de Direito na Indonésia, e que possui o respectivo diploma (que é o mais importante nesta historia toda), mas não que percebe nada de leis e tem gafes atrás de gafes no desempenho do seu cargo. No que me diz respeito, estou pensando em adquirir o diploma de Eng. Geofísico. Acho que me assenta bem, para além de querer passar a ser tratado por Senhor Eng. Miguel Neto.

Para além deste aspecto, para mim a Indonésia tem um grande senão, a sua culinária. De facto, em Timor contacta-se com muita frequência com a culinária da Indonésia, nomeadamente a culinária Javanesa, ora indo lá estamos cercados por ela. E de facto nesse aspecto eu tive uma enorme dificuldade em comer adequadamente na semana que passei neste país vizinho. Tirando alguns pratos da chamada seafood , acho completamente intragável tudo o resto. Para além de uma grande parte dos pratos ser à base de Frango (os mais íntimos sabem como eu detesto aves), ou não estivéssemos num pais fortemente atingido pela gripe das aves, os cheiros dos óleos fritos misturado com outros cheiros da comida fortemente apimentada, torna um restaurante típico de comida javanesa completamente intragável logo à distancia. Enfim, levei a uma semana a louvar a globalização americana, porque o que me safou em Jogya foi os poucos Mc. Donalds existentes. Na Ilha de Bali, já não tive esse problema. Primeiro porque a culinária típica dessa ilha é um pouco mais comestível, depois como é uma zona fortemente turística, existes muitos sítios onde um ocidental esquisito com a comida, como eu, se pode alimentar a preços bastante baixos.

Enfim, por aqui me fico, para a semana tentarei escrever mais novidades. Parece que porque aqui a situação esta a tornar-se muito complicada em Díli. Porém ainda não houve problemas de maior em Manatuto e em Baucau, os sítios onde me encontro frequentemente. Por isso não há motivos para grande preocupação no que me diz respeito. Porém se a situação piorar, nomeadamente nos sítios onde circulo, certamente tiram a minha companhia aí mais cedo do que o previsto.

Se quiserem comentar e já não houver espaço aqui no blogue podem sempre mandar um email para miguelmarioneto@gmail.com. Eu prometo escrever e enviar fotos sempre que puder.

Um abraço e obrigado a todos.

Miguel Neto

 

publicado por directodetimor às 01:16
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito
Quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2007

Quem é o Camões, Professor malai?

Amigos, no dia em que inscrevo este post, deparei-me com uma imensa dificuldade. Todos os meus alunos do 10º Ano, que têm para cima de 15 anos e que estudam português a três anos não sabiam pura e simplesmente que era a mais famoso poeta português de todos os tempos, ou seja, Luis de Camões. Surpresa? Não! Estes e outros jovens da mesma idade até aos 25 anos não têm qualquer contacto com a cultura portuguesa, a não sei desde a independência de Timor em 2002. Para além disso a cultura portuguesa para eles, está mais distante do que a cultura chinesa para nós. No tempo do domínio indonésio era proibido todo e qualquer contacto com tudo o que fosse português, por isso estes jovens tiveram toda a sua formação primária na língua e cultura indonésia. Eles gostam e sabem tudo o que diz respeito à indonésia. Para eles a sua origem cultural e linguística é a indonésia, e Portugal é apenas um país distante que fala uma língua parecida com a língua dos brasileiros e que tem bons jogadores de futebol. O português quer como língua, quer como cultura não lhes diz nada, nem gostam, e nem lhes parece que seja útil aprender. Porque tudo os que os rodeia é indonésio. São os manuais escolares que utilizam e que são escritos em Malaio (língua da indonésia), porque não percebem os manuais escritos em português. É a televisão que vêem que é da indonésia, e que tem uma multiplicidade de canais, para todas as idades e gostos, enquanto a RTP internacional para além ter só um canal, tem programas que nem aos portugueses cativa, quanto mais aos timorenses que têm dificuldade em perceber o português e que estão à vontade com o Malaio.

Enfim, é assim a luta desleal entre o Portugueses e o Malaio, entre a cultura portuguesa e a cultura indonésia, entre aqueles que acham que Timor ter o português como língua oficial é um disparate porque devia de ser o malaio, já que é a língua do país mais próximo, (ao contrario do português que é a língua dum pais que fica no outro lado do mundo) e uma língua que toda a gente fala em Timor.

Além do mais, para a maioria desses jovens o verdadeiro português é o português do Brasil, não o português de Portugal. Musica Portuguesa para eles na sua generalidade é a música brasileira.

É assim, a vida de um professor voluntário de português em Timor, levando uma luta desleal e impossível de vencer com a cultura e a língua da indonésia. Mas há que continuar.

Se quiserem comentar e já não houver espaço aqui no blogue podem sempre mandar um email para miguelmarioneto@gmail.com. Eu prometo escrever e enviar fotos sempre que puder.

Um abraço e obrigado a todos.

Miguel Neto

 

 

publicado por directodetimor às 03:03
link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito
Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2007

O “enigma” de Natar-Bora

Em Timor Leste existe um lugar chamado Natar-Bora (o nome deriva da existência de uma planta a que os locais chamam “bora” e que é semelhante aos juncos, sendo utilizada na concepção de cestos, “Natar” em tétum significa Várzea). Para quem é conhecedor da geografia do País fica algures perdido entre Viqueque e Manatuto. E digo algures porque esta localização é imensamente vaga. Para quem não conhece a geografia basta saber que fica no interior do pais, porém a escassos 8 km da costa banhada pelo Oceano Indico.

Mas o que esse lugar tem de especial? Absolutamente nada e tudo. Isso mesmo. Natar-Bora consegue ao meu tempo ser a zona mais rica da parte mais oriental da Ilha e seguramente uma das ricas de toda a ilha, e simultaneamente a região mais pobre e desfavorecida de todo Timor Leste.

Em Natar-Bora existe tudo, para além de ser o local de onde é originário o Primeiro-Ministro José Ramos Horta. Em Natar-Bora existe uns camarões que são quase únicos em todo mundo e que são conhecidos mundialmente. Em Natar-Bora existe entre muitas outras árvores, a árvore de onde é extraído o incenso, que tem como fruto uns pequenos nódulos semelhantes às nossas amêndoas, e que têm também um fruto semelhante a essas, mas cujo sabor é muito melhor. A esse fruto chama-se “Kiar”. Em Natar-Bora existe uma imensidade de terra que para além de ter no seu subsolo petróleo, todo o que se sêmea lá cresce e produz-se como em mais nenhum outro lugar de Timor-Leste.

Por outro lado, em Natar-Bora habitam entre 9000 a 13000 pessoas, que apesar de terem estas “comodidades”, vivem sem luz, água canalizada, telefone, correios, jornais, e estão a uma hora de carro da rede de telemóvel, para além de durante 6 meses estarem completamente isolados do resto de Timor Leste, porque todos os caminhos estão interrompidos pela água da chuva, e a única ponte existente jaz caia já para vários anos.

Porém existe um enigma nas pessoas de Natar-Bora. Foi lá que eu encontrei as pessoas mais felizes e despreocupadas em Timor Leste. Posso dizer que quando tive a felicidade de ir a Natar-Bora, só a mim é que me preocupava as condições em que aquelas pessoas todas vivem no meio de tanta riqueza. Porém Natar-Bora para além de ser um enigma é um paradigma. Como os habitantes de lá vivem a maior parte dos timorenses por este pais cheio de riqueza e pobreza em simultâneo.

Não sou apologista de que a evolução e as comodidades do mundo ocidental nos desviam da verdadeira felicidade, mas penso que todos nós devíamos de pensar o verdadeiro uso que damos às coisas materiais. Será que devemos viver para elas e depois estarmos numa angustia permanente? Ou não seria melhor relativizar tudo o que possuímos, porque a verdadeira felicidade está naquilo que somos e não no que temos. Eu continuo por cá, descobrindo mais enigmas sobre este pais e este povo. Até uma próxima oportunidade.

Se quiserem comentar e já não houver espaço aqui no blogue podem sempre mandar um email para miguelmarioneto@gmail.com. Eu prometo escrever e enviar fotos sempre que puder.

Um abraço e obrigado a todos.

Miguel Neto

 

publicado por directodetimor às 00:45
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Setembro 2007

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30

.posts recentes

. Novo Blog

. O Último Post

. De Soibada a Maubisse

. Por cá continuo

. Em Timor, por vezes, chor...

. Para onde Vai?

. Uma Aventura em Timor (I)

. Realizei o Sonho de grand...

. Quem é o Camões, Professo...

. O “enigma” de Natar-Bora

.arquivos

. Setembro 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Abril 2007

. Março 2007

. Fevereiro 2007

. Janeiro 2007

. Dezembro 2006

. Novembro 2006

.links

.as minhas fotos

SAPO Blogs

.subscrever feeds